Clebson Ribeiro finalista - Prêmio Violas e Violeiros 2025

Clebson Ribeiro — Finalista do Prêmio Profissionais da Música 2025 na categoria Violas e Violeiros

Entre cordas, pausas e afetos: minha caminhada até o Prêmio Violas e Violeiros 2025

Nem toda trajetória artística é feita de palcos iluminados ou de aplausos em grandes festivais. Algumas se constroem de forma mais sutil — por entre arranjos pensados com delicadeza, pausas que dizem tanto quanto as notas, e uma coerência estética que não se dobra à pressa. Assim venho trilhando meu caminho com a viola. E agora, estar entre os cinco finalistas do Prêmio Violas e Violeiros 2025 representa, para mim, muito mais do que um reconhecimento pessoal. É o sinal de que existem outras formas de viver da música — formas que também merecem ser escutadas.

Curitiba, viola e escolhas

Sou de Curitiba, uma cidade mais conhecida por suas orquestras e festivais de música erudita do que pelo som da viola. Ainda assim, foi por aqui que minha relação com o instrumento se firmou, e que fui desenvolvendo meu trabalho como instrumentista, arranjador e compositor.

A viola caipira sempre me fascinou, não apenas pelo som, mas pela capacidade de evocar paisagens, memórias e afetos. Trazer esse instrumento para o sul do Brasil, com as devidas adaptações e escutas, tem sido um desafio constante — mas também uma escolha muito consciente.

Minha obra: entre releituras e escuta

Nos últimos anos, venho me dedicando à construção de uma obra instrumental e autoral. Trabalho com a viola em diálogo com outras linguagens musicais, em busca de uma sonoridade que seja minha. O EP “Repaginando” (2025) é um exemplo disso: nele, revisito clássicos como “Disparada”, “Amargurado” e “Vaca Estrela e Boi Fubá”, não para reinventá-los, mas para escutá-los com outra intenção — mais pausada, mais madura.

Não busco virtuosismo, nem efeitos. Minha música é feita de economia de gestos. Um fraseado limpo, timbres que convidam à escuta e silêncios que fazem parte da narrativa.

Parcerias que me atravessam

Apesar do foco no trabalho autoral, nunca caminhei sozinho. Com a cantora Mel Moraes, gravei em 2023 o álbum “Camponês depois da Guerra”, que nasceu do encontro entre nossas linguagens. Com Claiton Souto, parceiro em arranjos e experiências musicais, registrei “Arranjos Contemporâneos para Clássicos Caipiras (Live)” — uma proposta de releitura respeitosa e ousada.

Também tive encontros marcantes com músicos do Conservatório de MPB de Curitiba e com luthiers e artesãos da viola, que me ajudaram a descobrir novas possibilidades sonoras e afinidades estéticas.

Ritmo próprio, caminhos digitais

Minha forma de circular com a música não segue o padrão da cena tradicional. Não faço turnês nem busco grandes palcos. Prefiro que a música vá chegando de forma mais orgânica — pelas plataformas digitais, pelos vídeos caseiros, pelos discos que lanço de forma independente.

Essa opção tem a ver com o modo como entendo a arte: não como produto, mas como ofício. Me interesso pelo tempo da composição, pelas pequenas descobertas técnicas, pelo silêncio entre uma nota e outra. Acredito que a pressa rouba da música a chance de ser profunda.

Uma linguagem própria

Ao longo desses anos, venho desenvolvendo uma maneira muito minha de tocar e de compor. Claro que carrego influências — da música de viola, da música de câmara, do barroco mineiro, do minimalismo, até da música andina. Mas o que mais me importa é poder reunir essas referências sem perder a minha voz.

Gosto de pensar que, em algum momento, quem me ouve pode reconhecer meu toque. Não pela técnica, mas pela intenção. Pela atmosfera. Pela escuta que proponho.

O prêmio como travessia

Estar entre os finalistas do Prêmio Violas e Violeiros 2025 é, sem dúvida, uma alegria. Mas mais do que isso, é uma travessia. Não se trata de um ponto de chegada. É um marco simbólico que reforça uma ideia na qual acredito: é possível construir uma carreira autoral, artesanal, fora dos grandes centros e dos circuitos comerciais — e ainda assim ser ouvido, reconhecido, lembrado.

Minha discografia

Álbuns

  • Oceans (2025)
  • Mantras e Amiúdes (2024)
  • Viola Rapsódia (2023)
  • Camponês depois da Guerra (2023) – com Mel Moraes
  • Nas Asas da Viola, Vol. 1 (2022)

EPs e Singles

  • Repaginando (2025)
  • Repaginando – Viola Requinta (2024)
  • Enlevo (2024)
  • Arranjos Contemporâneos para Clássicos Caipiras (Live) (2023)
  • O Tempo (2022)
  • Sawabona (2022)
  • Você (2021)
  • Mercedita (2021)
  • Meu Amigo Chicão (2021)
  • Flor de Urucum (2021)

Todos esses trabalhos estão disponíveis nas principais plataformas de streaming e também no meu site pessoal.

Escrevendo sobre o som

Além de compor e tocar, também escrevo. Tenho um livro publicado, onde reúno reflexões sobre o fazer musical, a escuta, a criação e o cotidiano com a viola. É uma escrita híbrida — entre diário e ensaio — que busca traduzir em palavras aquilo que, muitas vezes, só a música alcança.

A música que chega

Se há algo que me comove neste momento, é perceber que a música chegou. Que, mesmo fora dos grandes holofotes, ela foi escutada. E que, mesmo sem me preocupar em estar sempre visível, pude ser lembrado.

Minha contribuição é modesta, mas sincera. Faço música como quem constrói uma casa para abrigar afetos. E se ela tocou alguém, mesmo que de forma discreta, já valeu a pena.

Agradeço a quem escutou, a quem me acompanha, aos parceiros de jornada. E sigo — entre cordas e silêncios — criando no tempo que a viola me pede.

Por Trás da Cortina

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