Repaginando - Clebson RibeiroRepaginando (2025): três músicas, três memórias, uma só viola

Em março de 2025, lancei o EP Repaginando. Três músicas. Três histórias que nunca saíram de mim. Arranjadas agora para viola caipira — meu modo de devolver ao tempo o que ele me deixou guardado.

Escolhi “Disparada”, “Amargurado” e “Vaca Estrela e Boi Fubá” não apenas por suas melodias, mas porque cada uma delas carrega em mim um rastro. Um cheiro de estrada, um silêncio de despedida, um eco vindo de longe — como se, em algum ponto, elas já fossem minhas antes mesmo de eu tocá-las.

Lembro das viagens longas até o Mato Grosso do Sul, para tocar em bike cafés e praças de cidade pequena. Ao final dos dias, era na venda que eu parava. Não para comprar nada, mas para ouvir. Sempre tinha um senhor com viola no colo. Tocava ponteios que lhe haviam sido ensinados pelo pai — e ele, com a mesma calma, passava adiante. Ali não havia partitura. Havia olhar, o tempo certo da palheta, o compasso da respiração.

“Amargurado” era quase sempre a última. Cantada em uníssono por vozes gastas de estrada, com um respeito quase ritual. Ninguém falava durante ela. Ninguém ousava mudar uma nota. Era como rezar junto.

Quando decidi gravá-las, não quis recriar — quis lembrar. Meus arranjos não pretendem ser novidade. São apenas minha forma de tocar aquilo que ainda me toca. Um gesto de escuta interna. Um tributo sem palavras.

Em Repaginando, a viola caminha devagar. Ela não quer mostrar. Ela quer evocar. Cada nota é como um aceno: a quem passou por mim, a quem ensinou sem saber, a quem ouviu sem pressa.

São músicas para escutar com o coração quieto. Com os olhos fechados. Para sentir, talvez, uma lembrança que nem é sua — mas que a música, de algum modo, insiste em devolver.

Por Trás da Cortina

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